“No dia 3 de setembro de 1989, uma cena marcante ocorreu no Maracanã, durante a disputa entre Brasil e Chile por vaga na Copa do Mundo de 1990. Mais de 141 mil pessoas assistiam o jogo e eu estava lá, não apenas como espectador, mas com a responsabilidade de fotografar a partida para o Jornal do Brasil. Embora fosse um novato na redação, conhecido como “foca”, consegui a oportunidade de estar em campo, próximo à bandeirinha de escanteio com uma lente 300 mm.
Não deveria estar lá, o jogo era de alta importância e eu, com somente 21 anos, acabado de entrar na Editoria de Fotografia, levava uma grande responsabilidade nas costas. Consegui a oportunidade por insistir ao editor, Orlando Brito, de meu desejo em fotografar a partida, ao menos parte do primeiro tempo. A condição era coletar os filmes dos outros fotógrafos no intervalo e levá-los de volta à redação.
As demandas do trabalho fotográfico na década de 80
Aqueles eram outros tempos, uma época onde jogos importantes exigiam uma coleta de filmes no intervalo, a fim de evitar que o laboratório de revelação ficasse abarrotado ao fim da partida. A sede do Jornal do Brasil, situada no Caju, bem próximo ao Maracanã, facilitava a logística do processo. Após coletar os filmes, retornei ao jornal usando um dos carros da frota própria do veículo.
Cheguei ao jornal na metade do segundo tempo e o clima era de tensão. Um rojão havia sido lançado da arquibancada e parecia ter atingido o goleiro chileno Rojas. Ele saiu do campo carregado pelos companheiros e sangrava muito, quase como um figurante de filme do Rambo.
A consequência inesperada de um rojão lançado
Logo após o incidente, fui informado que a pessoa que lançou o rojão havia sido presa e levada para uma delegacia próxima ao Maracanã. A movimentação de fotógrafos e cinegrafistas era intensa, quase como se tivessem prendido um grande traficante internacional. O clima era de fúria e todos acreditavam que o Brasil seria eliminado da Copa.
A responsável por toda essa confusão era uma jovem de 24 anos, loura e magra, chamada Rosenery Mello Nascimento Barcelos da Silva. Ela trabalhava na Light e parecia assustada com a situação que se encontrava. À partir daquele momento, Rosenery ganhou um apelido que a marcaria para sempre: a Fogueteira do Maracanã.
Conforme os dias passaram, o evento ganhou novos contornos. Descobriu-se que o rojão lançado por Rosenery não atingiu o goleiro Rojas. Ele, na verdade, causou um corte em sua própria testa com uma gilete para simular a contusão. O Chile foi eliminado da Copa de 1994 e Rojas acabou banido do futebol. Rosenery, inocentada, tornou-se capa da revista Playboy, sob o título: “Estourando a festa, a nudez e a graça da Fogueteira do Maracanã”.