Em 1945, o fervor do carnaval no Rio de Janeiro era impulsionado não apenas pelos confetes e serpentinas, mas também por melodias que exaltavam alguns dos clubes de futebol mais queridos da cidade.
Nesse mesmo ano, o tradicional clube da Gávea, o Flamengo, teve seu hino eternizado na voz de Lamartine Babo, um ilustre compositor conhecido por músicas carnavalescas icônicas como “A Marchinha do Grande Galo” e “Linda Morena”. Foi então que a “Marcha do Flamengo” nasceu, enraizando-se no coração dos torcedores e transformando-se em patrimônio imaterial da cultura carioca.
Entretanto, vale ressaltar que antes da emblemática “Marcha do Flamengo”, o “Hino Rubro-Negro”, obra do goleiro Paulo Magalhães em 1919, adornava os jogos do Flamengo com seus versos “Flamengo, Flamengo, Tua glória é lutar”.
A canção, que fez sua estreia na festa de 25 anos do clube, foi adotada oficialmente em 1921. Surpreendentemente, este hino também foi gravado pela primeira vez na voz de Castro Barbosa, intérprete do hit carnavalesco “O Teu Cabelo Não Nega”, composto por Lamartine Babo em 1932 em parceria com Raul Valença e João Valença.
Como a “Marcha do Flamengo” se tornou um hino popular?
No início de 1944, a “Marcha do Flamengo”, já apreciada pelo público graças ao carisma de Lamartine Babo na Rádio Nacional, foi gravada pelo grupo 4 Azes e um Coringa. Porém, foi só em 1950 que a canção recebeu o nome de “Marcha do Flamengo” na performance do Trio Melodia. Conquistando a torcida com seu ritmo alegre e contagiante, em 1992 a canção foi incorporada ao estatuto social como um dos hinos oficiais do clube.
Após seu sucesso com o Flamengo, Lamartine Babo também compôs hinos populares para outros 11 clubes cariocas, incluindo América, Bangu, Bonsucesso, Botafogo, Canto do Rio, Fluminense, Madureira, Olaria, São Cristóvão e Vasco.
Há algum mistério no hino flameguista?
A individualidade marcante de Lamartine Babo pode ser observada no 12º verso do hino flamenguista que diz: “Nos Fla-Flus é o Ai, Jesus!”. A expressão deu margem a provocações dos adversários tricolores, mas o compositor de fato usou um jargão popular da época para homenagear o clube.
Segundo o idealizador do FlaMúsica, Paulo Tinoco, “Ai, Jesus” é uma expressão portuguesa que denota carinho, encanto ou admiração. Dessa maneira, em um Fla-Flu, o Flamengo seria o clube predileto, aquele que arranca suspiros.
Embora Lamartine Babo tenha falecido em 1963, sua musicalidade eternizada nos hinos cariocas continua a embalar o futebol e a alimentar a paixão dos torcedores, especialmente durante o carnaval, quando as canções ressoam em blocos e avenidas. Com os hinos, Lamartine deixou de ser apenas um nome na história do samba e se tornou parte integrante da identidade futebolística carioca.