Vinte anos atrás, a Federação Paulista de Futebol (FPF) lançou uma estratégia de marketing inédita para definir o futuro do meia Marcelinho Carioca. O passe do jogador, que havia sido adquirido pela própria FPF junto ao Valencia da Espanha por US$ 7 milhões, foi leiloado por meio de um serviço telefônico. O clube com o maior número de ligações seria o privilegiado de contar com o craque em seu elenco.
Santos liderou o número de ligações nos primeiros dias, mas o Corinthians, clube pelo qual Marcelinho já havia jogado entre 1994 e 1997, virou o jogo e venceu a disputa. Com 62,5% das ligações totais, o jogador voltou a vestir a camisa corintiana, seguido por São Paulo, Santos e Palmeiras na sequência de interessados.
Marcelinho relembra a experiência com emoção
O ex-jogador se lembra com carinho da inusitada experiência. “Foi brilhante”, disse ele em entrevista ao R7. Marcelinho riu ao lembrar a maneira como foi avisado pelo então presidente da FPF, Eduardo José Farah, sobre a chance de retornar ao futebol brasileiro que amorosamente chama de casa. “Vou dar você de presente para um time de São Paulo”, contou Marcelinho ao relembrar a conversa com Farah.
Apesar do insólito do leilão, existia um medo para Marcelinho. O “Pé de Anjo”, como era chamado pelos torcedores, temia que o Palmeiras, um dos grandes rivais do Corinthians, pudesse ganhar a disputa. “Fiquei preocupado, porque poderia dar Palmeiras, né? Falei para o Farah: e se der o Palmeiras? ‘Se der, você vai ter que ir’. Mas arrisquei, porque sabia que a torcida do Corinthians é fiel e iria mostrar o carinho que tem pela gente. E deu no que deu”, relembrou Marcelinho.
Prejuízo e legados da ação
A ação chamou a atenção e gerou interesse em todo o estado de São Paulo. No entanto, a FPF teve um prejuízo financeiro com o leilão telefônico de Marcelinho Carioca, já que arrecadou bem menos do que o esperado e teve que cobrir a diferença do valor pago ao Valencia. Estima-se que a ação tenha gerado cerca de US$ 2 milhões para os cofres da entidade.
Apesar do prejuízo, Jorge Farah, filho de Eduardo José Farah e jornalista, defende o pioneirismo do pai e ressalta o impacto da ação no futebol paulista. “Foi uma jogada de marketing. Meu pai foi o primeiro grande marqueteiro do futebol. Vendo a situação dos clubes, tinha que fazer alguma coisa para levantar o esporte. Não gerou o impacto necessário, mas serviu para mudar as ações no futebol paulista. O saldo foi positivo”, ponderou.
Marcelinho também defende a ação inédita e acredita que um procedimento semelhante poderia ser utilizado novamente na atualidade. “Tem espaço. Seria maravilhoso. Está faltando talento e a gente poderia contemplar os quatro grandes (clubes paulistas) com jogadores de nível”, finalizou.