O futebol é repleto de tradições e histórias que moldam a identidade dos clubes, e o Palmeiras, um dos gigantes do futebol brasileiro, não foge a essa regra. Entre as peculiaridades que marcam a trajetória alviverde, destaca-se o apelido “Porco,” uma alcunha que carrega consigo uma história marcada por uma tragédia e um significado transformado ao longo do tempo.
O Nascimento do Palmeiras
A história do Palmeiras começa em 1914, nas entranhas do bairro do Brás, em São Paulo, então habitado por uma vibrante comunidade italiana.
Diante da crescente paixão pelo futebol, membros dessa comunidade decidiram unir forças e criar uma entidade que os representasse nos campos de jogo. O resultado desse ímpeto coletivo foi o nascimento do Palestra Itália, no dia 26 de agosto de 1914.
Palestra Itália: Primeiros Passos e Conquistas
O termo “Palestra” escolhido para batizar o clube, traduzido do italiano como ginásio ou academia, refletia a essência esportiva que unia aqueles entusiastas do futebol. Rapidamente, o time ganhou destaque, disputando seu primeiro jogo em 1915 contra o Savoia, saindo vitorioso por 2 a 0.
Surpreendentemente, apenas três anos após sua fundação, o Palmeiras conquistou seu primeiro título em 1920, emergindo como campeão paulista. Esse feito notável marcou o início de uma trajetória repleta de conquistas e desafios.
Compra do Campo e Identidade Visual
Em 1920, o clube, com o apoio financeiro da Companhia Matarazzo, adquiriu seu campo de futebol e parte do Parque Antártica, estabelecendo uma base sólida para suas atividades esportivas.
O verde e branco, cores adotadas inicialmente, já delineavam a identidade visual que mais tarde seria parte integrante do folclore futebolístico.
Escolha do Apelido Porco: Um Capítulo Dramático na Rivalidade
A origem do apelido “Porco” associado ao Palmeiras remonta a um episódio dramático que deixou uma marca indelével na história do futebol brasileiro.
Em 28 de abril de 1969, o Corinthians enfrentou uma tragédia com a morte de dois de seus jogadores, Lidu e Eduardo, em um acidente de trânsito na Marginal Tietê, em São Paulo. A comoção foi imensa, e o futebol paulista estava de luto.
O Pedido e a Recusa Palmeirense
Abalado pela perda, o Corinthians solicitou a permissão para inscrever dois novos jogadores no Campeonato Paulista daquele ano como forma de lidar com a situação.
No entanto, o Palmeiras, em uma decisão controversa, votou contra essa permissão. Enquanto outros clubes, em um gesto de solidariedade, aceitaram a inscrição dos novos atletas, o Palmeiras se posicionou de maneira contrária.
A Polêmica e a Expressão “Espírito de Porco”
A recusa palmeirense gerou revolta, especialmente no presidente do Corinthians, Wadih Helu. Foi nesse momento que a rivalidade atingiu um novo patamar.
Helu, visivelmente irritado com a postura do Palmeiras, proferiu a expressão que se tornaria icônica: “espírito de porco”. Essa frase não apenas denotava a discordância em relação à atitude do Palmeiras, mas também cunhava o apelido “Porco” como uma expressão de crítica e revolta.
Resistência e Adoção do apelido Porco
Contrariamente ao esperado, os torcedores do Palmeiras não se deixaram abalar pela suposta ofensa. Pelo contrário, adotaram o apelido como uma forma de resistência e, eventualmente, de orgulho.
A atitude firme da torcida em assumir o termo depreciativo mostrou que ali nascia não apenas um apelido, mas um símbolo de identidade.
Possíveis Origens e Outras Versões do apelido Porco
A história por trás do apelido “Porco” do Palmeiras não se limita apenas ao episódio de 1942. Existem diversas versões e teorias sobre a origem do apelido.
Uma delas sugere que a cor verde da camisa do time, semelhante à cor de um porco, poderia ter sido a inspiração. Outros afirmam que uma antiga canção italiana, mencionando um porco que comia muito e dormia bastante, teria influenciado a escolha do apelido.
Identidade do Clube com o apelido Porco
Ao longo dos anos, o apelido “Porco” tornou-se parte intrínseca da identidade do Palmeiras. Os torcedores, em um gesto de apropriação e resistência, transformaram uma possível ofensa em motivo de orgulho. O mascote oficial do clube, um porco chamado Periquito, simboliza essa aceitação e celebração da alcunha.
A Rivalidade com o Corinthians
A rivalidade entre Palmeiras e Corinthians, que remonta aos primórdios do futebol em São Paulo, desempenhou um papel significativo na consolidação do apelido “Porco.”
Em 1969, após a morte de dois jogadores do Corinthians e uma solicitação para inscrever novos atletas no campeonato, o Palmeiras foi o único clube a votar contra. Essa atitude gerou revolta e culminou na associação pejorativa do termo “porco” ao Palmeiras.
O Apelido Porco e a Provocação
Apesar de os torcedores do Palmeiras utilizarem o apelido “Porco” com orgulho, a rivalidade com o Corinthians faz com que os torcedores adversários o utilizem como forma de provocação.
O termo, outrora pejorativo, transformou-se em uma arma utilizada pelos rivais para cutucar os palmeirenses. No entanto, para os torcedores alviverdes, o apelido é motivo de união e demonstração de amor pelo clube.
Uma Jornada de Orgulho e Resistência
A história do apelido “Porco” do Palmeiras é uma jornada marcada por reviravoltas, resistência e orgulho. O episódio de 1942, que poderia ter sido um momento de desânimo, transformou-se em um símbolo de identidade. A rivalidade com o Corinthians, mesmo gerando provocações, fortaleceu o laço entre os palmeirenses e seu apelido peculiar.
Hoje, quando os torcedores entoam o hino e celebram as vitórias do Palmeiras, o apelido “Porco” é mais do que uma simples alcunha. Ele representa uma comunidade unida, resistente e apaixonada, disposta a, portanto, transformar desafios em motivos de orgulho.
A história do “Porco” é, portanto, mais do que uma curiosidade futebolística; é um testemunho da força e da paixão que permeiam o universo do futebol e seus torcedores.