O Barcelona oficializou nesta sexta-feira a assinatura de um contrato de patrocínio de camisa com a Qatar Foundation, válido por cinco temporadas a partir de julho de 2011. Este acordo histórico encerra uma tradição de 112 anos sem o clube catalão exibir marcas em seu uniforme blaugrana, e o montante envolvido é o maior já registrado em acordos dessa natureza no mundo do futebol: 30 milhões de euros por temporada.
A decisão do presidente Sandro Rosell, antigo protagonista na relação CBF-Nike, tem suas raízes na atual situação financeira do clube. Apesar dos sucessos em campo, o Barcelona enfrenta desafios econômicos significativos. No início da temporada, o clube assegurou um empréstimo de aproximadamente 150 milhões de euros para atender a pagamentos imediatos, como os salários dos jogadores.
Ao assumir a presidência, sucedendo Joan Laporta, a nova diretoria revisou as contas do exercício 2009/10. A auditoria revelou um prejuízo de 80 milhões de euros, em contraste com o lucro inicialmente declarado de 9 milhões de euros pelo antigo tesoureiro Xavier Sala i Martín. Em busca de liquidez, o clube realizou negócios apressados, como a venda do zagueiro Chygrynsky ao Shakhtar Donetsk por 15 milhões de euros, um ano após tê-lo adquirido do mesmo clube por 25 milhões.
Diante das iminentes regras mais rígidas da UEFA, relacionadas ao “fair-play financeiro”, que exigem que os clubes gastem dentro de suas possibilidades de receita, Rosell sentiu que manter a tradição de não exibir patrocínio na camisa não era mais viável.
A pressão dos clubes menores da liga espanhola pela venda coletiva dos direitos de transmissão também contribui para a decisão, visando diminuir o abismo financeiro em relação a Barcelona e Real Madrid, que negociam individualmente seus contratos.
Laporta e Rosell, que compartilharam a mesma diretoria entre 2003 e 2005, romperam relações, e a comunicação entre eles agora se dá através de advogados. Recentemente, em assembleia de sócios, Rosell obteve aprovação para responsabilizar legalmente Laporta pelas perdas do Barcelona, buscando cerca de 49 milhões de euros por suposta má administração.
A direção atual projeta que o clube recupere sua estabilidade econômica em três anos, almejando receitas anuais de 500 milhões de euros. Na temporada passada, as receitas foram de 409 milhões de euros.
Apesar das dificuldades momentâneas, a situação financeira do Barcelona não é considerada crítica ao ponto de levar o clube à falência, visto que sempre pode obter crédito com os bancos, seguindo a tradição do Real Madrid.
É notável que o acordo histórico com a Qatar Foundation tenha sido realizado em meio ao bom relacionamento de Rosell com o país, evidenciado por sua participação financeira na academia de futebol Aspire Football Dreams, que proporciona treinamento a jovens de países menos desenvolvidos no Oriente Médio.
Além disso, Rosell teve papel importante ao convencer o técnico Pep Guardiola a se tornar embaixador na bem-sucedida candidatura do Catar para sediar a Copa do Mundo de 2022. O acordo milionário, portanto, pode ser interpretado como uma forma de agradecimento.