Escândalo de arbitragem no Rio de Janeiro destruiu liga

A concepção de ligas independentes no cenário futebolístico brasileiro não é uma novidade recente. No século XXI, diversos movimentos foram ensaiados nessa direção, com torneios como a Copa Sul-Minas-Rio, Copa do Nordeste e Liga Rio-SP, entre 2002 e 2016, destacando-se. Contudo, as federações estaduais e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sempre se mostraram dominantes nesse tabuleiro.

Na década de 90, no Rio de Janeiro, esse conflito ficou evidente. Em 3 de dezembro de 1993, Wagner Canazaro, então diretor de árbitros da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), reuniu-se com 70 juízes para articular um acordo visando manipular resultados do Campeonato Carioca de 1994.

Naquele contexto, os principais clubes do Rio de Janeiro, insatisfeitos com a Ferj, consideravam a criação de uma liga independente como alternativa ao Campeonato Carioca de 1994. Flamengo e Fluminense lideravam essa iniciativa, enquanto Botafogo mostrava interesse, e o Vasco vivia uma divisão interna. A Ferj, em conjunto com a CBF, conseguiu manter sua influência.

A revelação da reunião entre árbitros para manipular resultados chegou aos ouvidos do jornalista Marcos Penido, do jornal O Globo, através de uma fonte confiável. Os clubes rebeldes sofreriam sanções mais rigorosas durante os jogos do Campeonato Carioca seguinte.

A publicação das matérias levou a uma reação dos dirigentes da Ferj. Árbitros como Cláudio Cerdeira e Cláudio Garcia tornaram públicas informações do esquema, evidenciando os bastidores obscuros. O árbitro Orlando Gomes Leonor, em depoimento ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) da Ferj em 10 de janeiro, revelou que o Itaperuna foi rebaixado no Campeonato Carioca de 1992 por influência política.

Pressionada, a CBF interveio e promoveu uma reunião entre clubes e Ferj. Essa iniciativa encerrou a possibilidade de criação de uma liga independente, garantindo a participação de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo no Campeonato Carioca de 1994. A pressão chegou até João Havelange, presidente da Fifa, e Ricardo Teixeira, seu genro, que perceberam o risco de esvaziamento das federações estaduais e da própria CBF com a criação de uma Liga Nacional.

Qualquer chance para a Liga carioca desapareceu quando o presidente do Flamengo, Luiz Augusto Veloso, foi fotografado em Buenos Aires ao lado de Wagner Canazaro. O clube foi à Argentina disputar a Supercopa, e Canazaro foi afastado, substituído por Aulio Nazareno. No Campeonato Carioca, os árbitros que apoiaram Canazaro atuaram normalmente, e o Vasco conquistou o título em 1994.

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