Se você pensa que o futebol é um esporte sem riscos, certamente nunca ouviu falar sobre os casos de Marinho, jogador do Vitória, e o volante alemão Kramer. Ambos sofreram lesões cerebrais em campo e perderam memórias significativas na sua carreira. O futebol, por sua natureza, acaba sendo um esporte de contato, resultando em pancadas e, em alguns casos, em concussões que podem ter desdobramentos graves.
O exemplo de Marinho é emblemático. Em uma partida contra o Cruzeiro, o jogador sofreu uma pancada na cabeça e caiu desacordado. Neste caso, o protocolo é simples: o jogador deve ser retirado da partida. No entanto, muitas vezes esses episódios passam despercebidos pela equipe médica. Se uma segunda pancada ocorrer, enquanto o cérebro está inflamado, o risco de morte é real.
Os efeitos das lesões cerebrais nos jogadores de futebol
É importante destacar que as lesões cerebrais não acarretam apenas em riscos imediatos. Elas podem ter efeitos a longo prazo, como perda de memória e demência. Dawn Astle, filha de Jeff Astle, um dos jogadores do time inglês que venceu a Copa do Mundo de 1966, vivenciou esta triste realidade. Seu pai morreu aos 59 anos, apresentando sintomas de uma pessoa de 90 anos e sem nenhuma lembrança da sua carreira de jogador de futebol.
A família de Jeff decidiu doar seu cérebro para a Universidade de Glasgow onde foram revelados resultados preocupantes. A deterioração mental de Jeff não foi causada por Alzheimer, mas por Encefalopatia Traumática Crônica, uma doença encontrada comumente em atletas que sofreram repetidos choques na cabeça.
Quais medidas estão sendo tomadas?
Para pressionar as autoridades a fazerem estudos sobre o impacto das contusões na cabeça e suas possíveis sequelas, Dawn criou a Jeff Astle Foundation. Porém, apesar da crescente preocupação, não há estudos que confirmem que a bola atual é mais segura que a de antigamente. Ainda que o material sintético torne a bola mais leve e menos perigosa, isso é apenas uma suposição.
Anghinah, neurologista do Hospital das Clínicas, destaca que nos Estados Unidos, os médicos da NFL (futebol americano), NHL (hóquei no gelo) e NBA (basquete) fazem uma avaliação médica na pré-temporada que inclui tomografias da cabeça. No futebol, esta prática ainda não é adotada.
Ainda assim, a CBF e a Federação Paulista tem grupos de estudos para debater sobre as contusões na cabeça. Os números apresentados pela Confederação Brasileira mostram que estas lesões só não são mais comuns do que as lesões na coxa nas Séries A e B.
Em suma, há um caminho a ser trilhado para garantir a segurança dos jogadores de futebol. Conscientização, protocolos e investigações sobre o impacto das concussões são ações necessárias. Conforme bem ressalta Dawn Astle, “o que vimos até agora é apenas a ponta do iceberg”.