Abel Ferreira tem atitude emocionante que merece ser aplaudida
Em meio a uma sala repleta de crianças, adolescentes e adultos ansiosos para se aproximar do homem que acumula troféus no cenário do futebol brasileiro, Abel Ferreira direciona suas palavras a Gabriel Macedo. Sentado no chão, trajando a camisa do Palmeiras, Gabriel se engaja na leitura de um livro infantil para as crianças. Essa é a atividade voluntária que ele realiza sempre que possível: atua como mediador, um contador de histórias na biblioteca comunitária da Favela dos Eucaliptos, localizada na região do Cata Preta, periferia de Santo André, na grande São Paulo.
“Eu gostei muito do lema que eles têm aqui, que é “Comida no prato, livro na mão e bola no pé”. Muitas vezes, não valorizamos isso porque nós vivemos numa bolha. Não pensamos que há que não tenha comida no prato. É mais que uma biblioteca. É um espaço de reunião, de liberdade, um espaço onde os pais podem deixar seus filhos para irem trabalhar. E sabendo que eles terão acesso à comida, além dos livros. É fundamental isso”, afirmou Abel Ferreira.
Na manhã mencionada, o treinador do Palmeiras acrescentou mais um título ao seu extenso currículo: o de Embaixador da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC). O projeto, existente há 17 anos, congrega atualmente 132 bibliotecas comunitárias em todo o Brasil. Esses espaços emergem voluntariamente em bairros e cidades onde as opções de atividades culturais são escassas. Bibliotecas que surgem em garagens, borracharias, nos fundos de escolas e até mesmo em cemitérios, oferecendo muito mais do que simples palavras e histórias.
A afinidade de Abel Ferreira com a literatura antecede o lançamento, pela sua comissão técnica, do livro “Cabeça Fria, Coração Quente”, no início de 2022, revelando as táticas e os bastidores do trabalho no Palmeiras. O primeiro e mais significativo livro que capturou a atenção do técnico bicampeão brasileiro foi “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry. Abel não hesita em afirmar que a leitura foi transformadora em sua vida, quando ainda nutria o sonho de se tornar jogador de futebol em Portugal.
“Eu tinha vergonha de falar em público, de ler em frente aos meus colegas quando eu estava na escola. E toda minha vida foi uma transformação até eu chegar ao que eu sou hoje. Eu já era jogador de futebol e conciliava com os estudos. Tirei minha licenciatura em Educação Física enquanto jogava no Vitória de Guimarães. Se eu cheguei até aqui, com todos os medos e as inseguranças, foi por ler, por estudar, por estar sempre à procura do que fazem os melhores.”, disse o português.