No final do século, especificamente no ano de 2001, a Câmara dos Deputados do Brasil hospedou uma investigação importante e reveladora: CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) distinguindo a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e seus negócios com a empresa de material esportivo, Nike.
Ricardo Teixeira tomou posse como presidente da CBF em 1989 e encontrou uma organização à beira do colapso financeiro, sem os meios para financiar viagens de suas delegações. Com o passar do tempo, ele conseguiu reverter a situação por meio de contratos lucrativos, sendo o mais notável com a Nike em 1995, proposta para o fornecimento de equipamentos esportivos para a Seleção Brasileira.
A Copa do Mundo de 1998 na França tornou-se um catalisador para a criação de uma CPI. Apelidada de “CPI da Nike”, esta investigação discutiu a estreita relação entre a CBF e a empresa americana de material esportivo. Ao término da comissão em 2001, Ricardo Teixeira encontrou-se acusado de inúmeros crimes e o contrato entre CBF e Nike teve de ser revisado.
O relatório surge, a votação não
O relatório da CPI, criado em 2001, falava em indiciar Ricardo Teixeira junto com outras 33 pessoas – entre dirigentes, empresários e afins. Contudo, o relatório, embora aproximadamente com 800 páginas, nunca passou por votação. Consequentemente as investigações cessaram ao longo do tempo.
O medo de perder o trabalho de oito meses dedicado ao relatório levou o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), relator da CPI, a não submeter o relatório à votação. Além disso, uma influente “Bancada da Bola”, ligada aos dirigentes do futebol, resultou na troca de 10 dos 25 membros da CPI antes da votação do relatório final. Antecipando um resultado desfavorável, Torres, juntamente com o deputado Aldo Rebelo, cancelaram a votação e encerraram a CPI.
Detalhes do contrato
O contrato discutido entre a Nike e a CBF implicava que um total de U$400 milhões seriam pagos durante um período de dez anos. Desse valor, U$160 milhões seriam destinados diretamente à CBF e o restante seria usado em uniformes, viagens, marketing esportivo e uma indenização de U$8 milhões para a Umbro.
No entanto, o fato de que somente Ricardo Teixeira ter assinado esse contrato da parte da CBF levantou suspeitas. Além disso, a CBF começou a ter prejuízos anuais após a assinatura do contrato. Surpreendentemente, mesmo com tais perdas, a CPI descobriu que a CBF tinha investimentos em ouro no exterior e que mais de R$650 mil eram doados a candidatos a deputados e senadores.
Abuso de poder
O deputado Silva Torres destacou cláusulas contratuais que permitiam à Nike uma influência considerada abusiva na convocação de jogadores e na seleção de amistosos. Ele acredita que a escalação de Ronaldinho para a final da Copa do Mundo de 1998, mesmo depois de convulsões na noite anterior, certamente se devia à influência da Nike.
Junto a isso, a CPI também investigou um contrato de U$10 milhões por ano com a Ambev. Tais descobertas enriqueceram o retrato de uma organização esportiva que negociava princípios éticos em nome do dinheiro e do poder. E, embora a CPI tenha sido encerrada sem levar a nenhum indiciamento formal, a investigação lançou uma luz sobre práticas questionáveis e falta de transparência no mundo do futebol.